segunda-feira, 13 de junho de 2011

".......bons tempos....."

Hoje ainda é dia 13.
Acho que é dia de colocar a décima terceira mensagem...


Hoje numa conversa que estávamos a ter ao pequeno-almoço, não sei bem porquê, mas falou-se em hospitais e, eu disse, talvez sem pensar no impacto que iria causar referindo-me ao meu período de hospitalização: “... bons tempos…”

Olharam-me todos, a Margarida (principalmente) e os tios, com um olhar…

Não era bem aquilo que queria dizer, referia-me apenas às coisas boas que aí se sentem, todos sabemos, mesmo aqueles que nunca tiveram semelhante experiência, que não é coisa que se deseje, não é coisa que ninguém anseie, principalmente quando o motivo é de urgência, e corre-se perigo de vida, quando não é uma simples cirurgia, mesmo assim existe sempre perigo, mas não é como tirar um período de férias, mas visto de determinada forma até é…..

Lembro-me de nos primeiros dias, numa unidade permanentemente vigiada e monitorizada, sentir em determinadas alturas uma serenidade que não consigo explicar, que era interrompida apenas pelos outros doentes que chamavam pelos enfermeiros e, à noite quando entrou uma rapariga numa gritaria e me assustou e retirou do sono profundo, que mais parecia um qualquer ser irracional e o som mais se assemelhava a um uivo contínuo que teimou em durar a noite toda, até uma enfermeira me pediu desculpa, pelo incómodo que estava a causar, como se eu estivesse num qualquer hotel de 5 estrelas… E estava apenas num hospital público…

Mas voltando à sensação de bem-estar…, foi um período em que, todos os que me visitavam diziam-me para não me preocupar com coisa nenhuma e, as coisas se resolviam sem a minha intervenção e que iriam todos ajudar… eu que estava habituado há longos anos a não pedir nada a ninguém desde que conseguisse fazê-la sozinho…

Mas a verdade era essa, se eu não estivesse aqui para contar, tudo iria continuar sem mim…. E na altura senti uma calma tremenda e aquilo não sei porquê soube-me bem… Sentir a necessidade imposta pelos outros de não ter de fazer rigorosamente nada e preocupar-me apenas comigo e com as minhas melhoras…

Durante uma semana não estive autorizado a levantar-me, sob pena de poder ter um coágulo algures e com a circulação deslocar-se até sítio impróprio… e ao fim dessa semana a primeira ida à casa de banho e tomar banho foi experiência inesquecível, parece que não sabia andar ou que estava perante enorme ressaca… Perguntaram se precisava de ajuda e eu, claro, disse que não, mas pelo caminho se não me tivessem deitado a mão tinha caído, tal era a “besana”…

E na casa de banho estavam constantemente a perguntar do lado de fora da porta se estava tudo bem… E eu a dizer que sim… até para lavar os dentes foi uma luta com a escova, com o copo e a pasta de dentes, Existem coisas que só as vivenciando é que se explicam… e para vestir as calças de pijama depois do banho? Enfiar as duas pernas… foi só com o apoio da sanita que consegui… mesmo depois das pernas das calças terem ido ao chão molhado vezes sem conta...

Mesmo assim gostaste da estadia?...,
Perguntam neste momento..., é preciso muita força, que se vai buscar lá a cima, não pode ser a outro lado…, mas dá uma experiência única,… e é como dizem alguns… a prática é tudo, não se aprende nos livros… é preciso vivê-la... e torna-nos mais ricos, essa é que é a verdade.

Mas existem momentos únicos, e esses não tenho especial saudades de voltar a passar por eles, como aquele da primeira vez que a Rita e Francisco me foram visitar… e se despediram no fim da visita… e eu lhes disse que gostava muito deles… Faço uma pequena ideia o que eles passaram, de que sentiram da minha demorada ausência de casa, mas também foi isso que os levou a crescer mais e principalmente a Rita, a partir daí deu um pulo do tamanho do mundo… mas o Francisco também, se bem que o temperamento calmo e aparentemente pouco emotivo não o demonstrem.

E a Margarida, minha companheira de vida comum de mais de 25 anos, acho que sofreu mais que eu…

O meu público agradecimento aos três e a minha eterna gratidão para eles, e perdoem-me às vezes esta minha mania de dizer o que devo e o que não devo…

Amo-vos a todos…………………………………………………………………………………….................


domingo, 12 de junho de 2011

Sensações

A praia ao final do dia foi sempre a minha hora preferida… desde o tempo que já podia fazer a deslocação pelos meus próprios meios, ou a pé, quando era perto, ou de bicicleta ou de carro, quando já não era assim tão perto…

Na infância e na altura da dependência de outros, era Peniche, depois passaram a ser as praias da Costa da Caparica, e actualmente (já à 20 anos) é a Costa Vicentina na zona de Aljezur.

Foi o caso de ontem, fui até à praia do Monte Clérigo junto às 19,00h, quando as pessoas iniciam o regresso a casa e a praia começa a estar “no ponto”, não sei se é por egoísmo, nem se não, a praia sente-se quase só nossa, com aquele mar imenso, com aquela ondulação a vibrar só para nós… é de facto um momento em que os sentidos da visão, audição, olfacto e até o tacto se fundem num só com um único propósito, o de simplesmente sentir…

Quando temos apenas o mar à nossa frente e o único som é dele e só dele, quando fechamos os olhos podemos sentir a presença do Céu, é uma sensação que quase todos nós já vivenciámos, e nos faz sentir tão bem.

Os únicos que têm um “sentir” diferente, talvez para melhor, são os poucos surfistas que escolhem também esta hora para praticar o seu desporto favorito, esses além de poderem sentir tudo o que senti, sentem mais a imensidão do elemento líquido…

Desde que vi “A cidade dos Anjos” a primeira vez, sim porque não tem conta a quantidade de vezes que o revi, lembro-me da cena que é retratada no filme da praia ao fim do dia cheia de Anjos e, com uma música de arrepiar de tão boa e calma que é… Assim é o que ouvi….

Deixo aqui uma foto do local, não do final da tarde, mas de outra hora…, afinal a praia é a mesma e aqui podem ver que é linda, excepto naqueles fins-de-semana quando todos, digo todos mesmo, escolhem ir para a praia á mesma hora… Enfim, nunca me senti bem no meio da confusão, os meus leitores e os que me conhecem já sabem….

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Mudança na forma de pensar...

Para iniciar a edição de mensagens em Junho, começo com um acontecimento ocorrido esta noite...

"...Não sei porque é que atraí isto?..."

Interrogou-se hoje pela manhã a minha filha Rita, muito serenamente, depois do irmão Francisco constatar que lhe tinham partido o vidro do carro dela à porta do prédio onde moramos, quando estava de saída para a faculdade, enviando de imediato sms para todos nós a avisar do sucedido.

É a verdadeira e sentida forma de ver o que nos acontece, é a mudança da forma de pensar, é a aceitação que tudo o que nos acontece é para nós.

Engraçada a forma de sentir os acontecimentos que nos dias de hoje são comuns, que no ser humano com menos conexão, acabaria por gerar revolta e outros sentimentos densos da matéria.

De facto a primeira reacção do "pós momento" deve ser esta. É parar para sentir, é parar para vivenciar a emoção que se gera perante tal situação, de verdadeira impotência, de total impossibilidade de voltar atrás, aliás como tantas outras...

Este pequeno texto foi escrito para ti,... Rita.