Acho que é dia de colocar a décima terceira mensagem...
Hoje numa conversa que estávamos a ter ao pequeno-almoço, não sei bem porquê, mas falou-se em hospitais e, eu disse, talvez sem pensar no impacto que iria causar referindo-me ao meu período de hospitalização: “... bons tempos…”
Olharam-me todos, a Margarida (principalmente) e os tios, com um olhar…
Não era bem aquilo que queria dizer, referia-me apenas às coisas boas que aí se sentem, todos sabemos, mesmo aqueles que nunca tiveram semelhante experiência, que não é coisa que se deseje, não é coisa que ninguém anseie, principalmente quando o motivo é de urgência, e corre-se perigo de vida, quando não é uma simples cirurgia, mesmo assim existe sempre perigo, mas não é como tirar um período de férias, mas visto de determinada forma até é…..
Lembro-me de nos primeiros dias, numa unidade permanentemente vigiada e monitorizada, sentir em determinadas alturas uma serenidade que não consigo explicar, que era interrompida apenas pelos outros doentes que chamavam pelos enfermeiros e, à noite quando entrou uma rapariga numa gritaria e me assustou e retirou do sono profundo, que mais parecia um qualquer ser irracional e o som mais se assemelhava a um uivo contínuo que teimou em durar a noite toda, até uma enfermeira me pediu desculpa, pelo incómodo que estava a causar, como se eu estivesse num qualquer hotel de 5 estrelas… E estava apenas num hospital público…
Mas voltando à sensação de bem-estar…, foi um período em que, todos os que me visitavam diziam-me para não me preocupar com coisa nenhuma e, as coisas se resolviam sem a minha intervenção e que iriam todos ajudar… eu que estava habituado há longos anos a não pedir nada a ninguém desde que conseguisse fazê-la sozinho…
Mas a verdade era essa, se eu não estivesse aqui para contar, tudo iria continuar sem mim…. E na altura senti uma calma tremenda e aquilo não sei porquê soube-me bem… Sentir a necessidade imposta pelos outros de não ter de fazer rigorosamente nada e preocupar-me apenas comigo e com as minhas melhoras…
Durante uma semana não estive autorizado a levantar-me, sob pena de poder ter um coágulo algures e com a circulação deslocar-se até sítio impróprio… e ao fim dessa semana a primeira ida à casa de banho e tomar banho foi experiência inesquecível, parece que não sabia andar ou que estava perante enorme ressaca… Perguntaram se precisava de ajuda e eu, claro, disse que não, mas pelo caminho se não me tivessem deitado a mão tinha caído, tal era a “besana”…
E na casa de banho estavam constantemente a perguntar do lado de fora da porta se estava tudo bem… E eu a dizer que sim… até para lavar os dentes foi uma luta com a escova, com o copo e a pasta de dentes, Existem coisas que só as vivenciando é que se explicam… e para vestir as calças de pijama depois do banho? Enfiar as duas pernas… foi só com o apoio da sanita que consegui… mesmo depois das pernas das calças terem ido ao chão molhado vezes sem conta...
Mesmo assim gostaste da estadia?...,
Perguntam neste momento..., é preciso muita força, que se vai buscar lá a cima, não pode ser a outro lado…, mas dá uma experiência única,… e é como dizem alguns… a prática é tudo, não se aprende nos livros… é preciso vivê-la... e torna-nos mais ricos, essa é que é a verdade.
Perguntam neste momento..., é preciso muita força, que se vai buscar lá a cima, não pode ser a outro lado…, mas dá uma experiência única,… e é como dizem alguns… a prática é tudo, não se aprende nos livros… é preciso vivê-la... e torna-nos mais ricos, essa é que é a verdade.
Mas existem momentos únicos, e esses não tenho especial saudades de voltar a passar por eles, como aquele da primeira vez que a Rita e Francisco me foram visitar… e se despediram no fim da visita… e eu lhes disse que gostava muito deles… Faço uma pequena ideia o que eles passaram, de que sentiram da minha demorada ausência de casa, mas também foi isso que os levou a crescer mais e principalmente a Rita, a partir daí deu um pulo do tamanho do mundo… mas o Francisco também, se bem que o temperamento calmo e aparentemente pouco emotivo não o demonstrem.
E a Margarida, minha companheira de vida comum de mais de 25 anos, acho que sofreu mais que eu…
O meu público agradecimento aos três e a minha eterna gratidão para eles, e perdoem-me às vezes esta minha mania de dizer o que devo e o que não devo…
Amo-vos a todos…………………………………………………………………………………….................