A escrita também é importante para desdramatizar muitas situações que acontecem no dia a dia...
Diálogo entre médico e paciente:
- Boa tarde, como tem passado?
- Bem.
- Então nunca mais teve nenhum episódio parecido?
- Não. Nunca mais.
(colocando o saco com todos os exames que levava por cima da secretária...)
- Ahhh. Trouxe os exames...!!!! (mostrando alguma admiração...)
Então e o trabalho? Já está em força?
- Trabalho, agora há pouco...
- Mas da última vez que esteve cá não disse que já tinha recomeçado a trabalhar?...
(abrindo o saco e começando a ver os resultados...)
- E estou..., mas há pouco... trabalho.
- Ahhh... pensava que me tinha dito que trabalhava há pouco tempo...
O que é que sente que ainda não está bem?...
- Basicamente é a fala, mas julgo que estou melhor...
- Está melhor, está... mas percebe tudo o que lê e não tem dificuldades em querer dizer palavras que não lhe aparecem, não é?... E a escrever?
- Por acaso escrevo muito mais agora...
(Continuando a ver os resultados e a escrever no computador... pergunta:)
- Ahh, já abriu todos os envelopes... (com um olhar de aspecto correctivo e intimidatório...)
Não sei se já lhe falei nisto ou não,... alguma vez lhe falei que devia fazer um exame psicológico?
- Já fiz durante o período em que estive internado e já o mostrei, por acaso hoje não o trago comigo...
- Ah, não faz mal. Se fez, tudo bem...
(continuando entretido a tomar notas...)
Pressinto que da próxima vez pergunte tudo de novo...
- Não era costume vir com a sua mulher?
- Era. Mas desta vez ela quis que viesse sozinho...
- Não quis é vir consigo! (sorrindo...)
Tem uma filha, não tem? Ela também costumava vir consigo às consultas, não era?
- Não, nunca veio... Por acaso tenho dois filhos, um rapaz e uma rapariga...
- Que idade é que eles têm?
- Ele tem 21 e ela 23.
- Ah, ela é a mais velha !
e chegando ao fim de todos os exames, diz:
Por aqui está tudo normal. Continuamos a não se saber porque é que aconteceu...
- Tinha que ser... (pausa) e perante ausência de resposta da parte do médico, comento: ...parece que existe aí um valor que está um pouco elevado...
- Pois, é verdade. Talvez seja qualquer coisa relacionada com o que está a tomar... O que é que está a tomar?
- O que me receitou... (não sabendo muito bem o que dizer...)
Depois de citar os dois medicamentos que tinha originalmente prescrito, pergunta:
- Como é que tem feito com a compra dos medicamentos? Não tinha receita para eles, pois não....?
- Não. A última consulta foi em Dezembro de 2010...!!! Mas um deles é muito barato e o outro aproveito o facto da minha mulher estar a tomar o mesmo e... parto o comprimido ao meio.
- Quanto é custa?
- Cerca de 2 euros.
Ahh, parte ao meio... (novamente com o sorrido malandreco...), mas assim não toma a dose certa.
- Não...? Então parto-o ao meio... ela toma de 20mg e eu tomo 10mg... metade de vinte é dez... (Sorrindo, mas pensando ao mesmo tempo não estar a proceder bem...)
- Ah é 10mg? Então está bem...
Chegando perto do fim da consulta, diz que vai marcar nova data e pergunta se em Dezembro está bem.
- Segunda ou quinta?
- Qualquer dia para mim está bem e pode ser a esta hora...
- Então fica para 20 Dezembro.
- Nunca que sabe..., esta foi adiada uma vez e a anterior foi duas ou três vezes...
- Ás vezes acontece (sorrindo de novo)... Mas desta vez não falha, é mesmo em Dezembro.