segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A ASCENÇÃO DE UM HOMEM BOM

Sinto que o tenho de fazer, por mim e por ele…

É um pequeno resumo da história dum homem que teve a sorte de viver com Ele no coração…

Lembro-me sempre dele a responder a todos sempre com referência a Deus e, em reuniões familiares, sempre que se falava em temas religiosos, eu estava sempre ansioso por ele demonstrar o seu ponto de vista, diferente do habitual, quando se falava da igreja católica, padres e santos feitos de madeira…

No dia da despedida e da homenagem à vida dele, ouvimos todos, que nesse dia perdia-se um homem bom, que quando o cumprimentavam e perguntavam se estava bem, respondia sempre: Tudo bem graças a Deus. Foi lido o texto que mais gostava, o Salmo 23..., foi um momento único e emotivo, ele certamente gostou onde quer que estivesse…

Fez as suas escolhas, deu conselhos, foi tolerante e foi doente desde cedo, mas sempre aceitou todas as situações sem resistência.

Quem convivia com ele, muitos deles não se apercebiam das suas limitações físicas e de tudo por que tinha passado. Sempre que via sofrimento respondia que ia pedir a Jesus por aquela pessoa… tantas vezes que me disse a mim que tinha que confiar em Jesus, então depois do meu internamento hospitalar… foi a primeira pessoa que sempre que verificava melhoras em mim, dizia-me… por vezes, até eu achava que falava com mais fluidez quando dialogava com ele.

Tenho saudades da sua voz…

No dia seguinte ao meu acidente, só pensava nele e, não queria que ele soubesse que eu estava no hospital… ele que tinha saído do mesmo hospital, (depois de estadia complicada e demorada), poucos dias antes… tinha medo do que pudesse acontecer… Só passados dias após o meu internamento e depois duma transferência de hospital, recebi a visita dele. Foi relaxante para mim, saber que ele estava calmo e confiante… ele não estava sozinho, a verdade era essa.

PRIMEIRO CONTACTO…

Por inúmeras vezes convidei-o para ir passar parte do dia no meu escritório, na margem sul do rio Tejo e, num desses dias, num almoço de peixe grelhado em Setúbal, contou-me à mesa do restaurante, que todas as vezes que falava no que lhe tinha acontecido um certo dia, ainda jovem, mal o conseguia contar até ao fim, porque comovia-se e escorriam lágrimas dos seus olhos. Constatei nesse momento que era verdade (não conseguiu contar até ao fim, mas deu para perceber…), foi nesse dia que tomei conhecimento da forma como ele O tinha conhecido. Nunca me tinha contado antes...

Contou-me que, um domingo no Jardim das Amoreiras em Lisboa, onde brincava com um amigo, sentiu um chamamento através da música vinda de uma igreja evangélica que aí existia e, penso que ainda existe,… entrou na sala dessa igreja e deteve-se na sala do templo por uns instantes… e sentiu uma coisa inexplicável naquele dia,… sentiu um calor muito forte a entrar pela cabeça e a ocupar todo o seu corpo… a partir desse dia recebeu o Espírito Santo no seu coração, palavras dele.

Anos mais tarde, falei com ele sobre a Alexandra Solnado, que conversava com Jesus, ao que me respondeu, eu também falo com Ele todos os dias… e pensei, tem razão, todos podemos falar se quisermos.

UMA VIDA…

Foi uma pessoa que nunca teve coragem de contrariar o seu próprio pai, bem sei que os tempos eram outros…, mas apesar de ser bom estudante, quando andava no secundário o pai disse-lhe que já chegava, que precisava dele na loja para ajudar… assim começou a viver uma vida que nunca quis e, disse-me sempre: Nunca queiras trabalhar com o teu pai. Sabia o que era trabalhar com o próprio pai e isso para ele era razão suficiente para aconselhar todos a não o fazerem.

Quando o pai dele partiu, parece que começou a viver de novo, vendeu a loja onde trabalhava com ele, arranjou emprego como vendedor de produtos alimentares de loja em loja, (ainda me lembro das amostras em sacos de plástico, dos vários tipos de feijões), passou pela inauguração da primeira loja Mini-Preço em Lisboa como gerente (onde para reduzir custos, todos os produtos eram expostos nas próprias caixas de cartão, não havia ainda códigos de barras e todos eles tinham de saber os preços de memória… impensável nos dias de hoje) e, finalmente estabeleceu-se por conta própria com negócio de papelaria num dos bairros emblemáticos da cidade de Lisboa, onde também vivia.
Este negócio vendeu-o na altura certa, parece que adivinhava… a partir daí teve mais tempo para médicos, consultas e internamentos em hospitais.

PRIMEIROS EPISÓDIOS RELEVANTES…

Quando eu tinha 6/7 anos, a minha mãe depois de ter abortado, a situação complicou-se e contraiu uma septicémia, passou largo tempo no Hospital de Stª Maria, em Lisboa, e sempre a piorar. Foi caso que durante muitos anos deu que falar no hospital… Houve um dia que a equipa médica chamou o marido e a mãe e preparou-os para o pior e que se esperava acontecer nessa noite… Por alguma razão não aconteceu, acontecendo precisamente o inverso, no dia seguinte todos estavam espantados com o sucedido, minha mãe estava curada… a única coisa que ela se lembra, foi de nessa noite ter ouvido música igual à das igrejas e, perguntar para a enfermeira se também ouvia… os médicos não queriam acreditar, nunca tinham visto coisa semelhante…

Eu não me lembro do episódio, talvez por ter sido muito protegido da situação pela minha avó paterna que cuidou de mim nesse período, mas durante a minha estadia em casa da minha avó Tó (Vitória), também aconteceu algo inexplicável…
Certo dia, apanhando a enorme porta de entrada em madeira aberta, fiz uma coisa de miúdos, coloquei a mão direita no espaço livre e entreaberto, entre as dobradiças e a aduela fixa do vão. Nesse instante, após abertura duma outra porta existente nessa casa, fez corrente de ar e, a porta de entrada bateu e fechou-se com enorme estrondo… e eu com a minha pequena mão lá enfiada… gritei e chorei no momento, fazendo com que minha avó viesse a correr em meu auxílio, abrindo a porta para que pudesse retirar a mão. Nem um arranhão… a minha avó durante dias contou o que se tinha passado, exemplificando com uma folha de papel, (colocando-a no local onde tinha sido entalada a minha mão por largos segundos, que mais pareceram horas), ficando a mesma vincada fortemente nesse local, não arranjando explicação pelo sucedido e por não ter causado nenhuns danos físicos. Tinha sido mais uma obra Dele, tinha a certeza…

Muitos têm sido os casos ocorridos, prova da sua intervenção e cura pela sua presença na nossa família.

INTERNAMENTOS…

Corria o ano de 1995, ele teve de um dia para o outro de ser submetido a cirúrgica cardíaca de urgência. Após anos de terapêutica e forma de vida diferente, o inevitável aconteceu… e de repente. Nem ele teve tempo de se preparar para o momento. Assim começou a sua ligação com os hospitais…

Nesse dia, corri para o hospital e deixaram-me vê-lo nos momentos que precederam a operação… já numa sala de transição, todo ligado a máquinas e tubos… como nunca tinha visto ninguém. Foi a primeira vez que me pediu ajuda, disse: “Pede ao Senhor pelo pai”…, disse-o com os olhos molhados…

Desde esse dia até 2012, foram muitas as visitas e estadias nesses ambientes, tendo sido uma das últimas em 2009. Também aí os médicos não acreditaram que pudesse sobreviver… entrou com um quadro de hérnia inguinal, passou a broncopneumonia, houve uma fase crítica que por vezes não conhecia ninguém, eu cheguei a ser o chefe da polícia…

Passados dias estava a ter alta… e os médicos a olhar…

A última história foi contada aqui neste “bloco de notas” chamado blog. Aconteceu no dia de aniversário da minha mãe, 26 de Agosto. Era dia agendado por todos os filhos e destinado a ir almoçar ao Concelho de Peniche… Pela manhã, na casa de banho, escorregou e partir o braço junto ao ombro… Ficou tudo sem efeito. O resto da história, quem leu, já sabe.

Agora que tudo passou, agradeço ao Céu a possibilidade de ter disfrutado de vários dias nas deslocações ao Hospital de Santana com ele, para as consultas e exames de rotina, após o seu internamento. Não foi operado porque não podia ser sujeito a mais outra anestesia geral, foi imobilizado o braço e teve de andar assim largas semanas. Nos últimos RX que fez, o osso do braço já estava colado, não a 100%, mas era o suficiente para levar a vida normalmente.

Tinha uma consulta, talvez a última, marcada para Janeiro de 2013.

Nunca chegou a ir…

O Céu quis levá-lo para junto da Origem no dia 2 de Dezembro de 2012, dia em que senti a presença dele a despedir-se de mim, precisamente à hora que partiu (soube-o depois no hospital), durante a viagem de Aljezur para Lisboa.

Faz hoje precisamente um ano.

Mais uma coisa, no dia 4 de Dezembro de 2012, na manhã do seu funeral, observei pela janela de minha casa, um arco iris gigantesco e muito luminoso, muito perto e como nunca vi, e quando estava na casa de banho a preparar-me para sair, senti-o a comunicar através de músicas na rádio… na SmoothFM, não sei explicar como e talvez este relato não faça sentido mas…

1 comentário:

As fotos de Dalila disse...

Já me fizeste chorar......... tenho tantas saudades do meu pai........... Tantas tantas........................